03 fevereiro 2006

Avó

Era uma mulher simples.
Pés descalços quase sempre, roupa de quem trabalha no campo. Um avental com bolsos de coisas boas. O cabelo apanhava-o sempre num puxo na base da nuca, quase sempre com pontas rebeldes a espreitarem por todo o lado. Rebeldes como o espírito dela.
As mãos marcadas dos anos, das enxadas, das escovas, das vassouras, das panelas de ferro quentes. As mãos que deviam ser ásperas, e se calhar eram... mas na minha memória são para sempre doces, meigas, quentes. Mãos que tinham ligação directa com todas as coisas vivas. As plantas, os animais, as pessoas...
Uns olhos brilhantes, com brilhos que não eram deste mundo. E um sorriso que fazia esquecer qualquer tristeza. Aquele sorriso que vestia sempre como uma bandeira.
Naquele coração enorme cabíamos todos. Filhos, netos, amigos e até inimigos. Cães, gatos, coelhos, porcos, galinhas. Flores e plantas.
Havia sempre comida para mais um, sorrisos para mais mil.
Podia ter sido a Mãe Natureza.

Para mim, era só Avó.

Sei que estás comigo, Avó, sinto-te todos os dias. Obrigada.

1 comentário:

Anónimo disse...

touching...

:)