Fins de tarde
Fui assaltada por uma recordação quase a 3 dimensões, como se tivesse de repente posto aqueles óculos com lentes às cores e olhado o meu álbum de memórias.
Numa fracção de segundo deixei de ser a mulher de 30 anos sentada no seu gabinete a olhar pela janela, na tentativa de se escapar momentaneamente à pilha de papéis a tratar, e sou outra vez a menina de 7 anos, arrapazada e traquinas, a passear de mão dada com o meu pai na Avenida Fernão de Magalhães, num fim de tarde de Outono, depois da aula de Inglês enquanto esperavamos o meu mano.
E vejo as luzes das montras das lojas, com as roupas quentinhas. E caminho, meio a correr, meio a saltitar, para acompanhar os passos pausados e grandes do meu pai. E conversamos, falamos tanto! E sinto o cheiro dos bolos da confeitaria ali ao lado, e o barulho dos carros, das pessoas que se apressam para chegar a casa. Tenho o nariz frio, mas a minha mão - perdida naquela mão enorme de Pai - está quentinha quentinha.
Regresso ao hoje, ao meu gabinete 2a casa. Já não estico o braço para dar a mão ao meu pai, mas ainda passeamos os dois pelas ruas, de braço dado, conversando muito sobre tudo e nada. E sabes, Pai, é tão bom como era naqueles fins de tarde!
1 comentário:
Senti uma imensa nostalgia... saudade da minha avó, que passeava comigo, do mesmo jeito!
Lindas lembranças!
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