Ano "novo"
É engraçado este regresso a um "novo ano" no Outono. Ainda que não seja exactamente Outono, ainda que este ano lectivo se tenha iniciado muito antes dos anos lectivos da minha infância. A Ana lembra-se de inícios de ano certinhos e organizados. Eu não. A verdade é que existia um dia para iniciar as aulas mas, talvez fruto de ser filha de professora primária, lembro-me bem da confusão que era o início, com os meninos a serem distribuidos pelas professoras, e os horários que tinham que ser escolhidos e não sabíamos se íamos ser de manhã ou de tarde... enfim. A coisa organizava-se e de facto as memórias principais não são essas.
Cheiros, principalmente cheiros. São essas as minhas memórias de início de ano lectivo. Lápis de cera, aquele mofo característico dos corredores mal ventilados da escola, lexívia com que se limpava as casas de banho, giz, papel novo, livros novos... cheiro a escola! No meu caso, quase cheiro a mãe, já que desde bem pequenina percorria os corredores daquela mesma escola, ao encontro da minha mãe professora.
As escolas foram mudando, e os dias de começar as aulas também. Mais livros novos, mais cadernos - as fases de bonecos e flores, de cadernos pretos austeros, de folhas soltas que teimavam em desaparecer antes de serem organizadas dentro de uma pasta de arquivo - a promessa feita dezenas de vezes de que "na próxima vez vou ser mais organizada", cores e mais cores nas dezenas de canetas que sempre me fascinaram. E depois as actividades extracurriculares, que para mim não se chamavam assim, claro! Era a ginástica e o Inglês, a música. Mais tarde o Alemão e as danças de salão.
Na Faculdade era o caos das matrículas. Agora são todas pela internet, tão confortável! Mas havia algo de integrante naquele dia em que se acordava ainda mais cedo para fazer fila à porta da secretaria e esperar horas e horas para estarmos matriculados. Sempre com um medinho irracional de não conseguir (e depois o que aconteceria? Nunca soube muito bem, mas imagino que nos matriculassemos com multa, mais tarde). Contar dezenas de vezes todos os impressos e juntar as fotografias, as declarações, as fotocópias de BI e o boletim de vacinas. E a AEFEUP, a sala de convívio, o BEST. Outras actividades, outros voos.
Depois quando a escola acabou, o fim do Verão ficou mais triste, com uma angústia pequenina que tardava em identificar como nostalgia do início do ano lectivo. Estes anos lá fui comprando mesmo assim um caderno e algumas canetas, mesmo sem precisar, para sentir um bocadinho pequenino daquela antecipação.
E este ano voltei à escola. Uma escola diferente, é certo. Mas a começar o ano quase quase no Outono, a ter desculpa - desta vez mesmo a sério - para comprar cadernos e canetas, livros novos e a cheirar bem. Sabe bem!
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