26 setembro 2005

Gatos

O meu gato é um amor, adoro-o. Já não sei viver sem aquele pestinha preto. Mas de vez em quando a minha paciência é severamente posta à prova. Como hoje.

Cinco e meia da manhã e ouço um barulho de coisas a cair. Acendo a luz e está o Sr. Ónix empoleirado em cima do monitor – tendo derrubado tudo à sua passagem.
Admoestação verbal e física – na forma de uma bela palmada. Apago a luz. Nem dois minutos depois, mais um barulho, ligeiramente diferente. Acendo a luz mais uma vez, para encontrar a peste no mesmo poleiro. Desta vez o percurso tinha sido outro, derrubando mais coisas à passagem. Admoestação mais intensa. Expulsão do quarto.
Assim que apago a luz, para tentar dormir o pouco tempo que me resta até ao despertador tocar, começa a serenata. Que afinado mia o meu gato!
Pena é ser alto... e ser madrugada. Desisto, abro a porta, ponho tudo o que parece derrubável no chão e enfio a cabeça debaixo da almofada. Agora quer brincar. Comigo. Salta por cima de mim, mordisca-me os pés, dá pancadinhas com as patas na minha cara...
Agora tenho sede... raios! Corro à cozinha e bebo um copo de água. Pouso o copo e corro de volta para a cama.
Seis menos um quarto. O gato ficou na cozinha a comer, parece que vou ter sossego. Adormeço. Barulho de algo a partir em grande estilo. O copo! Corro para a cozinha, varro os vidros, rogo uma praga ao gato que juro que se está a rir.Volto para a cama. Agora vem-me ronronar ao ouvido. Que riqueza. Pena é soar como um cortador de relva mal afiado. Sossego, enfim. Seis e vinte. Oh joy! Dez minutos para o despertador...

19 setembro 2005

Paixões

Há paixões tão intensas que tempo nenhum apaga... uma das minhas é Legião Urbana. As músicas são deliciosas, mas as letras... grande, grande Renato Russo. Onde estiveres continuas a inspirar-me. Obrigada.

Andrea Doria

Às vezes parecia que, de tanto acreditar
Em tudo que achávamos tão certo,
Teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais:
Faríamos floresta do deserto
E diamantes de pedaços de vidro.

Mas percebo agora
Que o teu sorriso
Vem diferente,
Quase parecendo te ferir.

Não queria te ver assim -
Quero a tua força como era antes.
O que tens é só teu
E de nada vale fugir
E não sentir mais nada.

Às vezes parecia que era só improvisar
E o mundo então seria um livro aberto,
Até chegar o dia em que tentamos ter demais,
Vendendo fácil o que não tinha preço.

Eu sei - é tudo sem sentido.
Quero ter alguém com quem conversar,
Alguém que depois não use o que eu disse
Contra mim.

Nada mais vai me ferir.
É que já me acostumei
Com a estrada errada que eu segui
E com a minha própria lei.

Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais,
como sei que tens também...

Do amor


Eu sou assim mesmo.
Amo com tudo, vou de cabeça, vivo o amor como se o dia seguinte fosse o último. Sou intensamente feliz quando há retorno, feliz de fazer o trânsito parar com uma dança no meio da rua, feliz de cantar da janela do carro para quem passa, feliz de vestir cor-de-laranja e saltitar à chuva, feliz assim...
Há não muito tempo fui feliz assim... assim e mais. Porque era ELE, o especial, a alma gémea. Em pouco tempo fiz o filme todo, vivi a vida até ser velhinha e partilharmos tudo: casa, filhos, sonhos, planos, viagens...vida. Demorei a perceber que era só meu o sonho, que era só minha a vida e a felicidade saltitante.
E depois vem o cinzento, as lágrimas, a tristeza tão profunda que parece agarrar-se ao fundinho do coração. E aí tudo perde a cor, tudo perde o sentido.
E desta vez foi assim... assim e mais. Porque o amor da nossa vida, quando morre, é uma perda imensa, que leva tudo, que destrói todos os sorrisos. E vesti preto, cinzento... e chorei pelas ruas sem chuva – nem a chuva veio este ano camuflar as minhas lágrimas.
Recupera-se... o tempo cura tudo. Mas o meu amor não volta a ser igual.
É pena.

14 setembro 2005

Prazeres de Outono


foto Kevin Thom

As folhas que se quebram debaixo dos nossos passos, com aquele som e cheiro inconfundíveis... o aconchego do cachecol e da camisola quentinha... tardes de filmes lamechas cobertos por mantas aos quadrados, acompanhados de chocolate quente e bolachinhas... chá, muito chá, quentinho, fumegante... nostalgias de regresso às aulas - não resisto a comprar um lápis, um caderno, qualquer coisa - memórias de cadernos a estrear... o barulho delicioso da chuva a cair quando se está quentinho na cama e não se tem que sair... a lareira acesa... a vontade que seja Natal...

ah...o Outono...

13 setembro 2005

Bem à primeira

“Toda a gente merece uma segunda oportunidade”
E nós, seres humanos falíveis, agarramo-nos a essa segunda oportunidade como seguro da primeira. O pior é que o fazemos também como desculpa para não darmos o melhor à primeira. Fazemos as coisas como meros ensaios, porque à segunda é que vai ser a sério. E quem sabe não haverá também uma terceira?
Proponho uma abordagem diferente: e que tal apostarmos em fazer as coisas bem à primeira, não esperarmos pela segunda oportunidade, muito menos pela terceira?
Viver, trabalhar, amar com a solenidade das coisas únicas e importantes. Dar o melhor sempre, à primeira, como se essa fosse realmente a única oportunidade.

07 setembro 2005

Olhar o céu

Esta manhã a Natureza presenteou-me com um daqueles cenários de tirar a respiração. O céu ao amanhecer, depois de um dia de chuva com nuvens cor de rosa entrecortadas por um azul estonteante. Uma luz repleta de promessas de um dia glorioso. Assim vale a pena acordar de manhã cedo.
Assim vale a pena levantar os olhos para o céu, admirar simplesmente a grandeza do que é belo. Esquecer por algum tempo o caminho a percorrer, admirar o que nos transcende e sorrir.
Tenham um bom dia!

06 setembro 2005

Caminhos antigos

Estive a ler coisas antigas que escrevi. Tenho a tendência de escrever coisas tristes, parece que a inspiração aparece quando me sinto menos feliz.
Encontrei este texto e resolvi partilha-lo:

Dizem-me “esquece”… mas não sabem o que dizem…
Dizem-me “esquece” porque não conhecem a doçura do teu beijo, a suavidade do teu toque…
Dizem-me “esquece” porque nunca viram o brilho dos teus olhos quando acordas, o sorriso que fazes quando estás genuinamente feliz…
Dizem-me “esquece”… mas não sabem o que dizem…
Como se dizer bastasse para apagar as memórias e as esperanças. Como se uma palavra fosse lavar do meu peito este amor enorme que me enche, me consome, me domina, me faz quem sou…
Dizem-me “esquece”… e não percebem que mais depressa me esqueço de quem sou…
Não sabem o que dizem…

05 setembro 2005

Excerto de "O Principezinho"


“E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu educadamente o principezinho que se voltou mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho.
Tu és bem bonita.
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o princípe, estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa.
Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- O que quer dizer cativar ?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro amigos, disse. Que quer dizer cativar?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa.
Significa criar laços...
- Criar laços?
- Exactamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um menino inteiramente igual a cem mil outros meninos.
E eu não tenho necessidade de ti.
E tu não tens necessidade de mim.
Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo...
Mas a raposa voltou à sua ideia:
- A minha vida é monótona. E por isso eu aborreço-me um pouco. Mas se tu me cativas, a minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros fazem-me entrar debaixo da terra. O teu chamar-me-á para fora como música.
E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo que é dourado lembrar-me-á de ti. E eu amarei o barulho do vento do trigo...
A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:
- Por favor, cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o príncipe, mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.
- Nós só conhecemos bem as coisas que cativamos, disse a raposa. Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens já não têm amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me!
Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa.
Mas tu não a deves esquecer.
Tornas-te eternamente responsável por aquilo que cativas"

Antoine de Saint-Exupéry

02 setembro 2005

Behaviour breeds behaviour


E não é que é verdade, mesmo?
Aprende-se nas aulas de comunicação esta pequena máxima - comportamento gera comportamento - e a vida encarrega-se de demonstrar a sua veracidade.

Sinto-me bem, alegre. Parece que saí de um sonho mau ou de um quarto escuro. Sou EU outra vez, alegre, energética. E que bom é ser eu!
A boa disposição contagia, gera boa disposição. Um sorriso faz maravilhas, uma piada e uma palavra positiva fazem verdadeiros milagres.

Só me resta agradecer, em jeito de entrega dos Óscares, àqueles que sempre suportaram o menos bom, as tristezas, as lágrimas - aos Amigos.

01 setembro 2005

Passos maiores que as pernas

Tenho a mania de tomar decisões. É quase um vício. E não estou a falar em decidir o que vou vestir ou a comida da cantina. São mesmo decisões grandiosas, de mudar a vida e o destino.
E claro que na sua grande maioria, destinadas a falhar na sua concretização.
Onde falha? No início, claro. Na essência. Tentar dar passos enormes nessa ânsia de andar em frente o mais rapidamente possível. A ambição é boa... mas muito pouco realista.
Note to self: pensar dez vezes antes de "tomar decisões para todo o sempre"